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Vocação é uma missão - Entrevista temática com Pe. Adriano Maslowski



Nos aproximamos do mês vocacional. Resgatamos a entrevista temática com Pe. Adriano Maslowski, assistente dos seminaristas da Diocese de Santo Ângelo. Pe. Adriano nos ajuda a refletir sobre o tema "Vocação: uma missão". Confira:


Elo Diocesano: Hoje a palavra vocação está associada a palavra crise. Costumeiramente fala-se em crise vocacional. Como podemos interpretar o cenário vocacional hoje?

Pe. Adriano: O cenário vocacional que temos hoje coloca em ‘questionamento’ a caminhada humana e cristã que vivenciamos. Precisamos ter coragem para reconhecer isso e com essa constatação repensar as nossas práticas pedagógicas de servir. Assim sendo, diria que não é o ‘cenário vocacional’ que está em crise, ‘mas que a sociedade como um todo está em transe’. Vivenciamos tempos incertos marcados por uma razão totalizadora que caminha pelos sulcos da barbárie e essa constatação deve nos convidar a uma reflexão concreta e permanente quanto a missão que fomos chamados e assumimos enquanto peregrinamos por este mundo.

Por outro lado, quando se diz ‘crise’ podemos ao observar a etimologia da palavra perceber que estamos em um momento oportuno de ressignificar a nossa ação, rever onde estamos sendo falhos, reforçar onde temos caminhado bem e propor onde ainda não conseguimos avançar. Se o diagnóstico nos afirma o estágio de crise, é preciso dar o próximo passo, pois a constatação por si só não transforma. Portanto, vejo que estamos em um tempo adequado para avaliar, refletir e mais do que isso para sermos audaciosos em propostas concretas que possam nos assegurar a esperança em meio a tempos sombrios.


Elo Diocesano: Por vezes, no imaginário popular, a vocação é associada apenas aos padres e a vida consagrada, esquecendo-se da vocação leiga na missão evangelizadora. Como superar esse pensamento clerical para resgatar a dignidade dos ministérios leigos segundo o Concílio Vaticano II?

Pe. Adriano: Primeiro é importante destacar que se trata de uma caminhada e, portanto, não existe uma fórmula. Mas, na minha leitura vejo que o passo para superar o pensamento clerical perpassa pelo investimento em um processo formativo que capacite os indivíduos em humanidade e revitalize a experiência cristã e a vida de comunidade. E este processo precisa despertar as pessoas para a pulsão de vida, para o afeto, para sensibilidade, para responsabilidade ética para com o apelo/clamor do outro. Precisamos colocar a vida para além daquilo que a razão pode objetivar e representar. Necessitamos de uma experiência vivencial da fé e esta não deve ser resumida a uma teorização do nosso jeito de viver.

A superação desse pensamento clericalista exigirá de todos uma releitura quanto ao nosso papel vocacional assumido na caminhada de igreja. Naturalmente o passo para superar essa mentalidade também perpassa por nós Padres onde precisaremos avaliar e repensar o nosso modo de ser e de servir. Portanto, a constatação dessa realidade é oportuna para juntos como Igreja assumirmos o compromisso de resgatarmos a vivência da eclesiologia do Concílio Vaticano II. Avançamos muito, mas sem dúvidas o contexto nos convida a darmos mais alguns passos para superarmos esse pensamento clerical.



Elo Diocesano: O senhor é o assistente de formação dos seminaristas de nossa diocese. Quais os desafios da formação presbiteral hoje?

Pe. Adriano: Em síntese vejo que o maior desafio da sociedade hoje é a formação humana uma vez que vivenciamos um contexto volátil, incerto, frágil, complexo, ambíguo, ansioso, não linear e incompreensível. Esses aspectos talvez refletem os desafios não só da formação presbiteral, mas perpassa a vivência e formação dos indivíduos em sociedade.

Em consequência desse contexto, os desafios da formação presbiteral hoje são diversos e por vezes complexos exigindo muita sensibilidade e responsabilidade para com os sujeitos envolvidos no processo. Por isso, hoje a caminhada formativa tem um grande desafio que é independente da etapa (Propedêutico, Filosofia, Teologia) trabalhar um processo de formativo integral de subjetividades, capacitando os indivíduos em humanidade, reforçando/reconstruindo a experiência de fé e vida cristã, para então se trabalhar o processo da formação presbiteral ancorado nas diferentes dimensões (Humano-Afetiva, Espiritual, Intelectual, Pastoral-Missionária) preparando o presbítero para uma vivência permanente de formação.


Elo Diocesano: Que mensagem vocacional o senhor deixaria a nossas comunidades para animá-las?

Pe. Adriano: Prezado irmão e irmã, sejamos nós vocacionados os responsáveis por esperançar a caminhada de nossas famílias e comunidades. Sejamos incentivadores uns dos outros. Não nos cansemos jamais de lutar pela vida e vida e abundância para todos. E para finalizar essa entrevista sobre “Vocação: uma missão” deixo para reflexão o texto da carta de Paulo aos Romanos que diz:

“Que o amor de vocês seja sem hipocrisia: detestem o mal e apeguem-se ao bem; no amor fraterno, sejam carinhosos uns com os outros, [...]. Quanto ao zelo, não sejam preguiçosos; sejam fervorosos de espírito, servindo ao Senhor. Sejam alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Sejam solidários [...] e se aperfeiçoem na prática da hospitalidade. Abençoem os que perseguem vocês; abençoem e não amaldiçoem. Alegrem-se com os que se alegram, e chorem com os que choram. Vivam em harmonia uns com os outros. Não se deixem levar pela mania da grandeza, mas se afeiçoem às coisas modestas. Não se considerem sábios. Não paguem a ninguém o mal com o mal; a preocupação de vocês seja fazer o bem a todos os homens. Se for possível no que depende de vocês, vivam em paz com todos. Amados, não façam justiça por própria conta, mas deixem a ira de Deus agir, [...]. Não se deixe vencer o mal, mas vença o mal com o bem” (Rm 12, 9-21).

Que Deus de amor e bondade ilumine a todos que assumem a missão e se dispõe de servir na messe do Senhor. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!

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