Vocações em um contexto de mudanças - Entrevista com Pe. Rudinei Lasch
Neste ano de 2023 a Igreja do Brasil celebra o 3º Ano Vocacional Nacional. Comumente ouve-se que as vocações estão em crise, que há poucos vocacionados. Buscando refletir sobre o cenário atual resgatamos a entrevista temática publicada no ELO Diocesano com o Pe. Rudinei Lasch, membro do clero da Diocese de Cachoeira do Sul, na época Formador do Seminário Maior Maria Mãe do Redentor da Diocese de Cachoeira do Sul e Coordenador da Comissão Regional dos Presbíteros. Confira:
TEMA: Vocações em um contexto de mudanças
ENTREVISTADO: Pe. Rudinei Lasch – Formador do Seminário Maior Maria Mãe do Redentor da Diocese de Cachoeira do Sul e Coordenador da Comissão Regional dos Presbíteros (CRP)
ENTREVISTADOR: Leonardo Envall Diekmann – Secretário Diocesano da PASCOM MISSÕES
Elo Diocesano: Como perceber/ouvir o chamado de Deus em meio a um contexto social de grandes mudanças, no qual, através da globalização, da ciência e da técnica, a sociedade evolui em um ritmo acelerado?
Pe. Rudinei: Deus nos chamou e continua chamando através de diferentes realidades, contextos sociais, lugares, carismas e momentos da história. Há grande necessidade de identificar nos jovens ou adultos, sendo esta uma nova realidade para a Igreja, vocações adultas, os sinais do chamado de Deus. A globalização tornou a sociedade mais dinâmica, rápida, comunicativa, competitiva, participativa. Os jovens têm muitas possibilidades para cursarem um curso técnico, uma faculdade, uma especialização, um mestrado ou um doutorado nas diversas áreas do saber. A ciência e a técnica avançaram significativamente, contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento, da informação, da tecnologia, da construção civil. As mídias sociais aproximaram as distâncias geográficas, pois nos comunicamos a todo momento. Há muito conhecimento ao nosso alcance, chegando até nós pelos meios de comunicações e compartilhamentos de informações. Todavia, há um anseio maior em que os jovens estão inseridos: sentido da vida. Este anseio leva a refletir o que Deus quer de mim? Qual o caminho seguir? Sacramento do Matrimônio, vocação sacerdotal ou à vida religiosa? Deus chama, mas a resposta é sempre pessoal. A Igreja oferece caminhos para que estas dúvidas sejam refletidas e discernidas. Para isto, é dialogar com as realidades do mundo e estar aberta às novas situações que exigem maiores cuidados, por exemplo, a fragmentação familiar. Desta realidade poderá, também, surgir uma vocação para a Igreja. Portanto, há uma necessidade imediata em escutar os anseios e dúvidas que os jovens trazem consigo, ajudando-os a discernir a sua vocação através do encontro de fé com Jesus Cristo.
Elo Diocesano: Qual o modelo de presbíteros esperados hoje, a partir do pontificado do papa Francisco, para atuarem à frente de nossas comunidades paroquiais?
Pe. Rudinei: O presbítero é uma vocação retirada do meio do povo, chamado pelo Senhor da Messe para trabalhar para o Povo de Deus através da Igreja. A Pastoral Presbiteral Nacional (CNP) e Regional (CRP), reflete a imagem do presbítero como discípulo e pastor do rebanho. Não somos presbíteros para nós mesmos, nossa vocação se dá na Comunidade cristã. Temos um modelo de sacerdote: Jesus Cristo, o Bom Pastor. O Papa Francisco pediu que os presbíteros tivessem cheiro de ovelha, isto é, estejam próximos do povo, em especial, os mais vulneráveis e distantes de Deus. Cuidar da pessoa na sua integralidade, exige do presbítero dedicação constante e cuidado com o rebanho que Deus confiou. Ele necessita dialogar com a sociedade, ouvir, guiar, cuidar, encorajar e acompanhar a comunidade com um olhar de misericórdia. É um anunciador da Palavra de Deus e um missionário de Jesus Cristo. Além de cuidar das pessoas, somos convidados a cuidar de nós mesmos. Este é o modelo de presbítero que a Igreja exige na atualidade para nossas comunidades de fé: que tenha os mesmos sentimentos de Jesus Cristo.
Elo Diocesano: Como o senhor vê a crise vocacional enfrentada sobretudo na região Sul do Brasil?
Pe. Rudinei: Hoje em nosso Regional Sul 3, Estado do Rio Grande do Sul, nos deparamos com realidades vocacionais bem diversificadas. Em algumas dioceses, em especial, no centro e no norte do Estado, há uma cultura vocacional que já vem sendo animada por décadas, no entanto, na região sul do Estado temos algumas dificuldades na questão vocacional. As famílias diminuíram e optaram por ter poucos filhos ou nenhum. Havia uma compreensão maior de Comunidade e de Igreja. Os jovens buscavam o Sacramento do Matrimônio, após batizavam os filhos, inseriam na catequese da Eucaristia e do Crisma. Hoje, no entanto, a secularização está tomando conta da sociedade moderna. Por isso, muitos jovens não estão interessados numa proposta vocacional, uma vez que, não receberam incentivo da família no caminho de fé. Precisamos recuperar o sentido da religião em nossas famílias, do sagrado, de Deus. Mas nem tudo são sombras, temos muitas luzes na Igreja que estão agregando vocações para servir ao Reino de Deus, fruto do intenso trabalho realizado pela Pastoral Vocacional, que inicia com a Pastoral dos coroinhas, a Iniciação Cristã, Grupos de Jovens, Movimentos, Pastorais e a vida das Comunidades Eclesiais.
Elo Diocesano: Em um modelo social cada vez mais urbano, como poderíamos redescobrir/recriar um espírito vocacional em nossas comunidades a fim de suscitar mais santas e verdadeiras vocações para a Igreja nos diferentes ministérios existentes?
Pe. Rudinei: A Igreja ainda caminha com uma visão rural, onde as famílias eram numerosas e os jovens participavam ativamente da Igreja. Hoje, a realidade é outra. Todavia, a família ainda continua sendo um exemplo, uma referência de vida. Os Movimentos e Grupos são um caminho para os jovens realizar uma experiência profunda de Deus. Tais experiências poderão gerar vocações para a Igreja: tanto sacerdotais, religiosas e leigas. O mundo urbano exige de nós maior empenho na missão e na promoção vocacional. É importante rezar pelas vocações na família e testemunhar a vida de Jesus. Precisamos falar bem da Igreja, do Bispo, dos padres, dos seminaristas, pois tal atitude reflete na animação vocacional. Uma promoção vocacional que atinja o coração dos jovens exige oração, convite e compreensão de mundo. Toda vocação é alimentada pela oração e pela participação alegre na Comunidade. Por isso, é relevante fortalecer a vida das nossas Comunidades. Deus abençoe as vocações para Igreja.
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