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Este dito está proposto como lema do mês da Bíblia deste ano 2020. É parte do versículo 11 do capítulo 15 do Deuteronômio. A afirmação, em forma de orientação, de um dever ser, uma disposição de conduta pessoal na vida social, resulta como um jeito de mostrar a vivência da fidelidade à Aliança. Para o povo da Bíblia era questão decisiva atender a esse apelo. Mais do que um compromisso ético nas relações sociais, constituía um modo de corresponder ao amor gratuito de Deus. Trata-se, pois, de ver, de modo mais detalhado, como isso se apresenta no texto bíblico.


Vida fraterna

O povo da Bíblia sofreu a dureza da escravidão no Egito. Deus atendeu seu clamor e entrou na história em favor da libertação. Celebrou com o seu povo uma Aliança. A vivência desse propósito asseguraria não mais voltar à experiência trágica de escravidão. O projeto sinalizado era de vida fraterna, comunitária. Esse horizonte está expresso nos textos.

“Se houver em teu meio um necessitado entre os irmãos, em alguma de tuas cidades, na terra que o Senhor teu Deus te dá, não endureças o coração nem feches a mão para o irmão pobre” (Dt 15,7). A existência de alguém pobre, ou mesmo apenas a possibilidade de tal, constitui um indício de não realização do projeto de relações sociais que asseguram vida digna a todas as pessoas. Para enfrentar tal situação, a orientação firme: “não endureças o coração”. Indica que é preciso vencer a indiferença, o fechamento e o descaso com o próximo.

A fidelidade à Aliança implica a vivência de relações comunitárias fraternas. Exige o reconhecimento da dignidade de cada pessoa. Requer o respeito mútuo e a valorização das capacidades de cada qual. Realiza-se pela articulação de iniciativas e práticas que favoreçam a entreajuda, a busca comunitária das condições necessárias à vida de todas as pessoas. No texto bíblico, tal propósito está assim expresso: “abre tua mão e empresta-lhe o bastante para a necessidade que o oprime” (Dt 15,8).


Prática solidária

Entrar na Terra Prometida; viver a Aliança: tais propósitos constituíam-se como horizontes de esperança a animar a busca, os esforços na articulação de uma proposta de sociedade sem escravidão. Os preceitos anotados no Deuteronômio (segunda lei!) apontam para este caminho. Os ditos mandamentos, prescritos na Lei, tinham em vista a organização da vida nas distintas dimensões da sociedade. Orientavam a criação de relações e práticas econômicas com justiça, a convivência social respeitosa e a organização política participativa.

Os mandamentos sinalizam relações entre as pessoas, marcadas pela solicitude, a atenção para as necessidades de cada qual. Tal disposição seja vivida com um espírito assim expresso no texto: “deves dar-lhe, e dar de boa vontade”. E lembra uma motivação especial para viver essa atitude: “Deus te abençoará em todos os teus trabalhos e iniciativas” (Dt 15,10).

No texto está presente também a percepção de que não bastam ações pessoais para atender as necessidades urgentes de quem ficou à margem das condições de vida digna. É preciso criar jeitos, iniciativas e práticas de caráter social, com dinâmicas consistentes e permanentes para assegurar uma convivência fraterna e de paz. A solidariedade necessita ser mais ampla. Para mostrar a importância dessa articulação de esforços, o texto bíblico anota: “uma vez que nunca deixará de haver pobre na terra, eu te dou este mandamento: Abre tua mão para teu irmão” (Dt 15,11). Eis um projeto de vida!


Autor: Pe. Carlos José Griebeler - Pároco de Santo Cristo

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