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A pessoa humana como símbolo e chave de leitura da 6ª Semana Social Brasileira

Tenho percebido depois de mais de 30 anos de realizar e participar de Análises de Conjuntura que não basta apresentar uma análise. É preciso criar recursos para comunicá-la, visto que trago a preocupação de que ela contribua para compreensão da realidade e possibilite que quem dela participou, multiplique suas trocas e aprendizagens com outras pessoas da comunidade eclesial, do movimento social, da vizinhança e da própria família. Estamos num tempo que é preciso que nos habilitemos ao diálogo, se queremos “estourar a bolha” e viver na prática a missão da “Igreja em saída”[2], que tão generosamente, papa Francisco tem nos sinalizado.

Assim, após muita reflexão quero propor uma chave e um simbolismo para compreender o que está acontecendo hoje em nosso país, com um olhar a partir dos prediletos/as de Deus: as pessoas empobrecidas. Este é um dos critérios que o Ensino Social da Igreja nos orienta: pensar a política para o Bem-Comum, o bem de todos/as, incluindo a Mãe-Terra.


A pessoa humana como símbolo e a chave de leitura da 6ª SSB

Vou adotar como símbolo a estrutura física de uma pessoa humana e como “chave de leitura” o que nos oferece a 6ª Semana Social Brasileira (6ª SSB), em seu lema: “Mutirão pela Vida: por Terra, Teto e Trabalho”, tendo como temas transversais a soberania, a economia e a democracia. Proponho agora que vocês imaginem cada uma das pernas: que uma seja a Terra (no sentido da agricultura, mas também no sentido dos biomas, da agroecologia, das águas e das Florestas), e a outra seja o Trabalho; pois creio que ambos “sustentam a vida humana”. O terceiro T, de Teto seja uma “casa”, que remeta à ideia da moradia, mas também da Seguridade Social: saúde, previdência social e assistência social; além das demais políticas públicas: educação, segurança pública, alimentação saudável.


Soberania, economia e democracia

Seguirei propondo a construção da imagem: sugiro que a cabeça seja soberania, o coração seja economia e os braços seja a democracia. A cabeça porque abriga o cérebro, as ideias e o pensamento, podendo assim decidir os rumos; a economia como aquela capaz de gerar vida digna para as pessoas; e os braços que podem se dar as mãos para colaborar e construir o bem-comum, fruto da democracia.

Bom, no momento atual do Brasil, estamos com este “corpo adoecido”, gravemente, por quê? Porque a temos uma cabeça submissa aos interesses do Presidente dos Estados Unidos da América, assim não é soberana, não pensa por conta própria; segue um projeto de nação submetido aos interesses das Grandes Corporações internacionais e de lá recebe ordens. É uma política que gera a morte e que se alimenta da morte (necropolítica), delimitando “zonas de sacrifício” (Amazônia, as periferias das Grandes Cidades, os lugares para se construir usinas nucleares, entre tantos exemplos) para uma elite pequena possa usufruir do conforto da “ordem e do progresso”

Seu coração só pensa no lucro. Passamos do neoliberalismo feroz para o ultraliberalismo que sacrifica vidas humanas para preservar a propriedade, esta sim, colocada como “direito sagrado”. E para mantê-la vale tudo: liberação de maior número de armas de fogo; liberar armas de muitos tiros, antes de uso exclusivo pelas Forças Armadas. E o que é pior, principalmente para áreas rurais, onde estão numerosos conflitos por Terra.

E em seus braços a direção é a do fascismo (quando você precisa encontrar um inimigo e demonizá-lo, de sorte, que o único jeito para “salvar a sociedade” seja eliminar todos os seus sinais) e do autoritarismo. Multiplicam-se assim os conflitos dentro das famílias, das Igrejas, colocando o povo contra o povo, estimulando-se a “invasão de hospitais”. Não se deixa espaço para o diálogo. Qualquer pessoa que questione deve ser eliminada: porque pensa. As mãos não estão abertas para formar uma aliança, mas para atacar e agredir as outras pessoas.


Terra e Trabalho como pernas e Teto como proteção

Uma das pernas que é a Terra se encontra arrasada, devastada, acelerando-se o desmatamento para fazer avançar a pecuária, a monocultura, os agrotóxicos, a mineração, as hidrelétricas. Não se respeita o direito sagrado aos Territórios Tradicionais dos Povos Indígenas e das Comunidades Originárias: pode-se “passar a boiada”! há uma negação da riqueza das diferenças étnicas e culturais. Há o desejo de se impor um padrão único de vida, de produção e do consumo, baseado na concentração, onde muitos se escravizam para ter uma migalha de salário e poucos esbanjam ostentação e conforto de forma opulenta.

A outra perna é o Trabalho que se encontra enfraquecido, desregulamentado, sem garantias e direitos. A informalidade está na lei atualmente. A promessa é que a Lei da Terceirização e da Reforma Trabalhista iria multiplicar os empregos. E onde estão. O desemprego que estava perto dos 14% antes da pandemia, está caminhando para 20 a 25% da População Economicamente Ativa (PEA). Os sindicatos enfraquecidos e desmoralizados. A possibilidade de concurso público, nem pensar. Como se constrói o futuro de uma família sem trabalho.

E o Teto, a casa, a moradia, a proteção social? Essa se encontra no “balança e qu