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“A Igreja é chamada a caminhar com os povos da Amazônia”. É a afirmação inicial do Papa Francisco no último capítulo de sua Carta Pós-Sínodo da Amazônia. Nele ele oferece uma expressiva reflexão sobre a presença da e de Igreja nessa vasta região do planeta, em meio a essa parcela da humanidade. Lembra o percurso já vivido como Igreja e sinaliza desafios bem marcantes a merecer atenção e solicitude pastoral. A própria realização do Sínodo é parte desse caminho promissor.

Para tal busca e trajetória, o Papa lembra alguns relevantes indicativos. “Para conseguir uma renovada inculturação do Evangelho na Amazônia, a Igreja precisa de escutar a sua sabedoria ancestral, voltar a dar voz aos idosos, reconhecer os valores presentes no estilo de vida das comunidades nativas, recuperar a tempo as preciosas narrações dos povos.”

E, ao apontar pistas, oferece uma percepção muito incisiva. “Neste contexto, os povos indígenas da Amazônia expressam a autêntica qualidade de vida como um ‘bem viver’, que implica uma harmonia pessoal, familiar, comunitária e cósmica e manifesta-se no seu modo comunitário de conceber a existência, na capacidade de encontrar alegria e plenitude numa vida austera e simples, bem como no cuidado responsável da natureza que preserva os recursos para as gerações futuras. Os povos aborígenes podem ajudar-nos a descobrir o que é uma sobriedade feliz e, nesta linha, ‘têm muito para nos ensinar’. Sabem ser felizes com pouco, gozam dos pequenos dons de Deus sem acumular tantas coisas, não destroem sem necessidade, preservam os ecossistemas e reconhecem que a terra, ao mesmo tempo que se oferece para sustentar a sua vida, como uma fonte generosa, tem um sentido materno que suscita respeitosa ternura. Tudo isto deve ser valorizado e recebido na evangelização.” A Carta convida para um caminho de intenso diálogo.


Jeitos, caminhos...

A proposta desse caminhar da Igreja na Amazônia precisa estar marcada por uma profunda espiritualidade. A escuta, atenção e respeito às vozes dos povos amazônicos sejam acompanhados pela Palavra do Evangelho.

São dimensões complementares desse esforço evangelizador. Há de ser um caminho de diálogo, aberto e sincero; atitude de serviço eficaz; promoção da dignidade da vida; cuidado pela preservação do ambiente natural. Dessas e nessas disposições fortaleçam-se jeitos e práticas de fé, animados pelo horizonte da esperança na vivência do amor solidário. Toda essa dedicação tenha sempre em conta, reconheça e valorize as culturas locais. Tanto os jeitos de organizar a vida de comunidades, quanto os modos de celebrar precisam integrar esses aspectos culturais. A própria maneira de viver os ministérios e realizar os serviços de Igreja sejam revistos e adequados a essa realidade.


Agentes

Em sua reflexão sobre a Igreja de rostos amazônicos, o Papa mostra seu apreço pelos vários agentes de animação das comunidades aí presentes. Menciona a necessidade de um número maior de padres bem inseridos nesse universo eclesial e cultural. Reconhece a importância decisiva de diáconos permanentes, religiosos e outras pessoas dedicadas ao serviço comunitário. Um especial reconhecimento recebem as tantas lideranças, leigos, atentos e solícitos, conhecedores da cultura desses povos, que exercem o seu ministério missionário a serviço do Reino de Deus. Destaque especial é dado à presença e atuação das mulheres ao longo da história comunitária da fé cristã na Amazônia. Diz o Papa: “Na Amazônia, há comunidades que se mantiveram e transmitiram a fé durante longo tempo, mesmo decênios, sem que algum sacerdote passasse por lá. Isto foi possível graças à presença de mulheres fortes e generosas, que batizaram, catequizaram, ensinaram a rezar, foram missionárias, certamente chamadas e impelidas pelo Espírito Santo. Durante séculos, as mulheres mantiveram a Igreja de pé nesses lugares com admirável dedicação e fé ardente. No Sínodo, elas mesmas nos comoveram a todos com o seu testemunho”. Horizonte missionário a iluminar o caminho de Igreja.


Autor: Pe. Carlos José Griebeler - Pároco de Santo Cristo

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