26º Grito dos Excluídos
O cenário acolhe o vigésimo sexto Grito dos Excluídos é verdadeiramente dramático. Não só porque agora eclodiu a pandemia do coronavírus, mas porque esta calamidade natural vem se juntar a outras, talvez menos notórias e mais sutis, que atacam e destroem a vida, derrubam todo e qualquer princípio humano de convivência social. Que destroem e aniquilam saberes, crenças, tradições milenárias, gerando o caos e alimentando-se das falsas notícias disseminadas nas modernas e sofisticadas redes da comunicação pós-moderna. Falsas notícias vendidas a peso de ouro como verdades de um “messianismo” ao alcance de poucos, classificados como “pessoas do bem”.
Todos os anos o Grito tem um programa e um tema que perpassa a sua história de mais de duas décadas de caminhada: «A vida em primeiro lugar». A ameaça contra a vida é constante em suas diversas formas, entre elas, as mais evidentes: a da violência do Estado e de suas instituições com os altíssimos índices de assassinato de jovens negros, pobres, periféricos, favelados; a violação dos direitos básicos como água, moradia, saúde e educação de qualidade, lazer, cultura, trabalho, transporte. O que fomenta o crescimento de uma economia elitista e exclusivista que produz uma minoria dos «ricos cada vez mais ricos» e a crescente miséria, inchando as periferias e jogando uma multidão de seres humanos no olho da rua, com consequências sociais dramáticas e assustadoras.
A tudo isso junta-se, nestes últimos anos, uma tendência que parece não ser apenas brasileira e latino-americana, mas mundial, em que as grandes movimentações de massa, de luta por direitos, foram enfraquecendo juntamente com a garantia dos Direitos adquiridos. A mudança na própria estratégia partidário-ideológica foi se conformando às exigências do mercado, alimentando um forte e incontrolado populismo. Isso acabou gerando uma “pandemia” sóciopolítica que transformou o ambiente político em negócio e o próprio Estado em empreendimento, dando vida a Trump, nos Estados Unidos; Macron, na França; Berlusconi, na Itália; Bolsonaro, no Brasil, entre outros. Em nível nacional, Doria, em São Paulo; Zema, em Minas Gerais; Wilson Witzel, no Rio, entre outros.
Estas mudanças radicais e antidemocráticas têm hoje um terreno favorável na desestruturação dos movimentos sociais, neste momento incapazes de organizar e motivar as grandes massas para uma oposição e resistência ao processo de demolição e esvaziamento de todo e qualquer programa de políticas sociais. Exemplos concretos disso, em nosso país, são as reformas trabalhista e da Previdência, levadas adiante após o golpe de 2016, uma verdadeira obra de arte do neoliberalismo e do capitalismo financeiro.
Sistemas cuja principal preocupação é a mercantilização e neutralização dos direitos e que encontram eco e apoio em executivos de direita, embebidos pelo imaginário sagrado do militarismo e neopentecostalismo, fenômenos que garantem estabilidade e cativam a simpatia das massas, mesmo as mais periféricas e lascadas que acabam legitimando as ações de seus próprios algozes. Diante desse grande dilema de desconstrução e pulverização da organização e movimentação social e da descrença nas instituições, esvaziadas de credibilidade, agravado pela incerteza de qual será o universo do pós-coronavírus - queremos e devemos levantar um grande grito. O clamor que vem das ruas, dos rincões, das periferias, dos recantos mais longínquos: “Basta de miséria, preconceito e repressão!
Queremos trabalho, terra, teto e participação!”. Voltando ao coronavírus e refletindo como algo tão insignificante, tão pequeno qual um “vírus”, esteja fazendo entrar em colapso um sistema econômico planetário, que parecia ser invencível e intocável - também nós, com um mutirão de grandes e pequenos gritos, possamos chegar a criar uma verdadeira “pandemia social pela vida”. Criando uma nova ordem social, um novo modelo cultural que, vencidos a miséria, o preconceito e a repressão, contemple Terra, Teto e Trabalho. E, porque não, ousar mais, levando adiante o grande sonho e tesouro dos povos nativos da “terra sem males”, em que o grande modelo socioeconômico é o “bem viver” e o modelo cultural, a “civilização do amor”.
Objetivos do Grito dos Excluídos:
1) Discutir com a sociedade o atual momento que vivemos no Brasil e no mundo, denunciando as estruturas opressoras e excludentes e as injustiças cometidas pelo sistema capitalista;
2) Refletir coletivamente que este modelo de “desenvolvimento”, baseado no lucro e na acumulação privada, não serve para o povo, porque destrói e mata;
3) Promover espaços de diálogo e troca de experiências para construir as lutas e a mudança, através da organização, mobilização e resistência popular;
4) Lutar contra a privatização dos recursos naturais, bens comuns e contra as reformas que retiram direitos dos/as trabalhadores/as;
5) Ocupar os espaços públicos e exigir do Estado a garantia e a universalização dos direitos básicos;
6) Promover a vida e anunciar a esperança de um mundo justo, com ações organizadas a fim de construir um novo projeto de sociedade;
7) Realizar mutirões em defesa da vida, por terra, teto e trabalho;
8) Motivar as comunidades, movimentos populares e governos locais a se empenharem na construção de um novo pacto econômico, a partir do chamado do Papa para a Economia de Francisco;
9) Fortalecer o mutirão da 6ª Semana Social Brasileira.
Fonte: O Grito dos Excluídos